Quantas vezes amor?
Algumas como coadjuvante em um roteiro démodé, tão previsível quanto o nascer de um novo dia. O mesmo frio na barriga e brilho nos olhos; a necessidade de ver, ouvir e sentir, exacerbado pela ansiedade e o medo. Reinterpretação de nós mesmos, com esse novo alguém!
Noutras, roteiristas de novas histórias, dedilhando corpos na busca de sentir além da pele. Experimentados pelo que outrora nos pareceu eterno e nunca o foi. Mudamos as falas, recontamos a história, tentando em vão evitar o momento agonizante da morte prematura de um outro amor!
Porque todo amor morre temporal!
Encenamos repetidas vezes, buscando uma perfeição intangível que nos levaria a imortalidade desse sentir. Sabemos o que deve ser evitado, reinventado. Traçando de forma perfeita a narrativa que encanta os ouvidos alheios, e ao sair o som da boca, tudo torna-se em verdade, retocando os quadros da memória, quem sabe assim não venha a contradição! E se vier, o próximo amor sempre será maior, sem mágoa ou dor. Até certo ponto.
No desespero assertivo, a parede da memória torna-se um borrão de telas repintadas, o eu, individuo que tempos atrás amputou pedaços, implantou enxertos, perdeu-se em meio ao personagem que tenta interpretar, ambos, metamorfoseados num tipo de ser feito de remendos e partes alheias! Um Frankenstein da nossa era.
E quando as cortinas fecham, o aroma da morte perfaz o drama, cerra os lábios e enebria-se no sabor salgado do que nos escorre os olhos.
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